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‘Gypsy’ o musical




Está em cartaz em São Paulo, no Teatro Alpha, o musical ‘Gypsy’, uma das mais impecáveis obras trazidas para o Brasil, por Charles Möeller e Claudio Botelho. No palco 38 atores, 18 trocas de cenários e 140 lindos figurinos e 17 músicos afinadíssimos. Sem dúvidas este é um dos mais belos roteiros exibidos aqui.

Mama Rose projeta em sua filha a realização de um sonho, tenta de tudo para que ela torne-se uma grande estrela do teatro, enquanto sua caçula é sempre a coadjuvante, porém o talento das duas é indiscutivelmente um fracasso, June, a mais velha, cansada das projeções feitas pela mãe deixa o grupo. Para não esmaecer seu sonho, Louise, a filha mais nova de Rose, torna-se a atenção da mãe e ganha muito mais êxito do que se imaginava. Herbie, o empresário das meninas, vive uma paixão com Rose, que leva a filha ao estrelato após o espetáculo trazer o rejuvenescimento do teatro vauneville, ou burlesco, onde diversas apresentações, dentre elas o striptease eram exibidas.

O musical, inspirado na história real de Rose, é contado de uma forma diferente da história, à fim de dar um tom a mais para o espetáculo, uma história com romance e familiaridade leva ao público maior aproximação do que se conta no palco, na verdade Rose tinha estatura bem mais baixa do que Totia Meireles, que a interpreta em Gypsy, além disso era lésbica, visto que Herbie não existiu em sua vida, mas está presente na peça para preservar o romantismo que qualquer musical carimba em suas grandes produções.

A obra é inspirada na autobiografia de Gypsy Rose Lee, a mais famosa stripper dos Estados Unidos, com a característica de que não tirava totalmente a roupa, o que é preservado no musical, onde Mama Rose jamais permitiria que a filha torna-se vítima do teatro burlesco, aceitaram a proposta porque era a única alternativa, já que as apresentações produzidas por Rose fracassavam sempre. Entre atores, bailarinos e cantores a história é muito bem desenvolvida, o texto de Arthur Laurents permite que crianças participem do espetáculo, a passagem da infância para a juventude dos personagens é impecável, e os pitacos de humor são inteligentemente inseridos às falas.

Totia Meireles, vivendo a Mama Rose, veste bem a personagem da mãe que realiza no filho os sonhos que gostaria de ter realizado, uma mulher aventureira e sem limites, porém que preservará sempre a integridade das filhas, tem uma voz linda, afinada, acompanha muito bem a orquestra e desliza no palco com total irreverência e leveza. Eduardo Galvão é Herbie, também com uma ótima desenvoltura, não tem tanta participação musical, até por estar na história de Rose apenas no musical e não na história real, porém sua participação enaltece mais ainda a presença da Mama em todo o espetáculo, que acaba ganhando a história. Eduardo mantém seu clima calmo e passa ao personagem toda sua serenidade. June é vivida por Renata Ricci, que preserva o jeitinho da mesma atriz mirim que a faz no início do espetáculo, tem ótima atuação e presença no palco. Adriana Garambone, que comprou os direitos da peça, interpreta Louise, que após realizar os desejos da mãe torna-se uma stripper de grande fama, Gypsy Rose Lee, espetacularmente interpretada, pois é uma personagem que altera seu jeito de ser, e a atriz trabalha isso muito bem, nos permite visualizar a passagem do tempo através de sua mudança, além de ser dona de uma voz deliciosa de se ouvir.

Louise não vive um romance no espetáculo, porém oscila os olhares do público para uma cena com Tulsa, vivido por André Torquato, os dois cantam e interpretam “All I Need is the Girl”, ele faz-se exuberante quando passa do sapateado para o vocal. Sendo pequena, a coxia do teatro Alpha não comporta os cenários que aguardam troca e os atores juntos, portanto números de cortina são apresentados sempre durante a troca de cenário, em frente do palco o sapateado canta no chão do teatro, trabalho de Flávio Salles. Quando falam do teatro burlesco strippers pra lá de engraçadas roubam a cena, Liane Maya, Sheila Matos e Ada Chaseliov desfilam um figurino impecável e despertam risos da plateia. O elenco todo é muito bonito e talentoso.

Casa, rua, palco de show e de teatro são um dos melhores cenários que já vi serem montados no Brasil, pois atendem exatamente ao que o roteiro propõe, Rogério Falcão leva para o palco cores e muita técnica para cada cena, compondo um conjunto de perfeição cênica. Paulo Cesar Medeiros cuida da iluminação, as vezes explosiva demais quando acendem-se todas as pequenas lâmpadas do palco, porém tudo segue sincronicamente, sem abusar de cores e tons, dando importância ao cenário e respeitando os limites do palco. O figurino de Marcelo Pies é digno de muitos aplausos, levam o personagem a sua época e situam o texto, as roupas são muito bem costuradas, bem cortadas e não poluem de cores quando um conjunto maior se apresenta no palco. Tudo é muito bom, a coreografia de Jerome Robbins e a remontagem por Janice Botelho e a regência de Márcio Telles harmonizam todo o espetáculo. As letras são de Stephen Sondheim e música de Jule Styne.

Gypsy apresenta a melhor overture já vista, a orquestra segura muito bem o início do espetáculo, e também o entreato, o tempo entre a música e os movimentos dos atores é sensacional. A criação de Gypsy no Brasil foi de grande responsabilidade e muito bem feito, não machucaram o que já existia e se conhecia na Broadway, preservaram a integridade artística da peça.